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ICE manipula Google para criar falsa ideia de operações em massa, denuncia advogada

Foto do escritor: Rádio Manchete USARádio Manchete USA

Advogada descobriu manipulação após monitorar operações do ICE
Especialista afirma que encontrou as inconsistências apenas nas páginas do ICE (Foto: Divulgação ICE)

WASHINGTON - O aumento das notícias sobre as operações do ICE em diversas cidades dos Estados Unidos desde a posse do presidente Donald Trump em 20 de janeiro tem causado pânico entre os imigrantes e pode não passar de uma estratégia de marketing da agência federal para atender a promessa de deportação em massa.


Uma pesquisa rápida no Google com palavras-chave como "operation" (operação), "raid" (batida) e "arrest" (prisão) junto com "ICE" mostra comunicados de imprensa da agência governamental liderando os resultados de pesquisas.


Entretanto, o jornal britânico Guardian destaca, ao citar uma advogada, que na página inicial do Google, os links aparecem com a data de 24 de janeiro de 2025, sugerindo que as supostas operações teriam ocorrido quatro dias após a posse de Trump.


Mas ao clicar nos links, aparece no topo da página um aviso de "conteúdo arquivado", explicando que a página "contém conteúdo de uma administração anterior ou está desatualizada".


De acordo com o Guardian, há milhares de exemplos de comunicados de imprensa antigos, em todos os 50 estados americanos, que foram atualizados em 24 de janeiro, dando a falsa ideia de que as operações seriam recentes. O jornal O Globo confirmou a denúncia.


A Machete USA também fez o teste e comprovou a tese. Na busca por "ICE raid Boston" o terceiro item e o segundo conteúdo do site oficial do órgão federal é "ICE prende brasileiro em Boston procurado por homicídio no Brasil" com a data 24/01/25. Ao acessar o link, a página informa ser um conteúdo arquivado, com data original de 14 de janeiro de 2024, ainda na administração de Joe Biden.



Em outra tentativa, "ICE raid Miami" o sexto resultado de busca, abaixo de páginas de notícias sobre o assunto, é do site do ICE com a manchete "ICE prende 18 imigrantes em Miami" e data 24/01/25, mas o conteúdo é de 7 de julho de 2023.




A publicação do Guardian aconteceu após uma advogada de imigração, que falou ao jornal sob anonimato por temer represálias, começar a rastrear batidas do ICE a partir da posse de Trump para criar um mapa nacional das operações.


Ela reparou que havia um padrão estranho quando operações de mais de uma década surgiram na página principal do Google com uma data recente. Em cada um dos estados, havia pelo menos um comunicado de imprensa do ICE antigo, atualizado em janeiro deste ano, entre os links de destaque no buscador.


“Já fiz isso em todos os 50 estados... e em várias cidades. E é a mesma coisa”, disse a advogada ao diário britânico. “Todos eles tinham a última atualização de 24/1/2025 e estavam todos aparecendo na frente do algoritmo.”


A mulher, então, deu início a uma investigação digital com ajuda de um amigo especialista em tecnologia.


O resultado leva a crer que a agência está deliberadamente manipulando o principal buscador do mundo. Ao Guardian, o ICE não retornou o seu pedido de resposta.


Um porta-voz do Google, por sua vez, disse que o objetivo do buscador é "refletir a última vez que uma página foi atualizada" e que seus "sistemas não são projetados para aumentar a classificação de uma página simplesmente porque eles atualizam seu carimbo de data/hora".


Por dentro da estratégia

Existem diversas estratégias para impulsionar um site para o topo dos resultados do Google, conhecidos como Search Engine Optimization (SEO), ou simplesmente "otimização de mecanismos de busca".


O algoritmo do Google analisa diversos fatores para determinar a relevância de uma página e priorizá-la ou não nos seus resultados. Domínios de sites do governo naturalmente já saem em vantagem pela confiabilidade. Outros truques envolvem incluir links do próprio site na página e atualizar a data e hora para uma mais recente, como aparenta ter feito o ICE.


A especialista em tecnologia acionada pela advogada, que também falou com o Guardian em anonimato, fez uma série de pesquisas direcionando especificamente para janeiro de 2025 e o site do ICE. Além do Google, também realizou testes no Bing, mecanismo de busca da Microsoft. Como resultado, ela encontrou quase 13 mil comunicados de imprensa do ICE com a data de 24 de janeiro de 2025.


Em seguida, ela inspecionou o código front-end das páginas do ICE em busca de pistas. Segundo ela, todos tiveram o seu registro de data e hora alterado.


“Todos os artigos foram atualizados no dia 24, o que fez com que o SEO do Google os interpretasse como artigos atualizados recentemente e, portanto, os classificasse em uma posição mais alta”, disse a especialista ao jornal britânico.


Os mesmos testes foram feitos com sites de outros órgãos governamentais, como o Departamento de Defesa e o Departamento de Trabalho, e não há evidência de que as datas das publicações dessas páginas haviam sido atualizadas, somente as do ICE.

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