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Brasileiros deportados foram agredidos a pauladas durante voo

Foto do escritor: Rádio Manchete USARádio Manchete USA

BH, MANAUS, NY – Os relatos dos brasileiros deportados dos Estados Unidos que chegaram a Belo Horizonte no sábado, 25, retratam maus-tratos por parte dos agentes de imigração americanos responsáveis pelo voo de volta ao Brasil, incluindo agressões físicas e ameaças.


O tratamento degradante foi compartilhado por todos os 88 brasileiros que chegaram a Manaus após o avião em que eram trazidos dos EUA parar para abastecimento e apresentar problemas no ar-condicionado.  


Desembarcando na noite de sábado no aeroporto de Confins após serem soltos pela Polícia Federal, vários dos migrantes disseram ter ficado 50 horas algemados, sem ar-condicionado no voo e sujeitos a abusos dos americanos.


"Nem cachorro merecia ser tratado daquele jeito", disse Jefferson Maia em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. Ele ficou dois meses preso nos EUA após atravessar a fronteira com o México. "Passei quase 50 horas acorrentado, sem comer direito. Estou há cinco dias sem tomar banho."


Segundo Jefferson, ele foi agredido pelos agentes de imigração já em Manaus, quando os americanos tentaram fazer o avião decolar mesmo apresentando falha no motor. Nesse momento, os migrantes pediram para sair da aeronave. "O agente me enforcou, puxou a corrente das algemas até que meu braço sangrasse", conta. "Não volto [pros EUA] nunca mais."



Os abusos dos agentes americanos só pararam quando alguns deportados conseguiram alertar as autoridades brasileiras, gritando por socorro após uma das portas de emergência ser aberta.


Os gritos foram ouvidos por funcionários do aeroporto que trabalhavam na pista e alertaram a Polícia Federal. "A gente disse pra eles: nós não vamos mais viajar nesse avião, chama a nossa polícia, tira a gente daqui", afirma Denilson José de Oliveira, 26 anos. "Senti muito medo. Parecia que estavam tentando nos matar."


A partir deste instante uma mobilização foi criada para acionar o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski.


O ministro falou em "flagrante desrespeito" dos direitos dos brasileiros. O Planalto, atendendo a uma ordem do presidente Luis Inácio Lula da Silva, também enviou um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para completar a viagem de Manaus até o aeroporto de Confins em Minas Gerais.


Na mesma noite do sábado, o Itamaraty publicou em suas redes sociais a informação de que pedirá explicações ao governo dos EUA sobre "o tratamento degradante dispensado aos passageiros no voo".


Em reportagem publicada na Folha de S. Paulo, o brasileiro Carlos Vinicius de Jesus, 29, disse que os agentes americanos agrediram e humilharam os migrantes. "Bateram em nós, falaram que iam derrubar o avião, que nosso governo não era nada. A gente que se rebelou, iam nos matar. Eles falaram que se eles quisessem eles fechavam a porta da aeronave e matavam todos nós."


Segundo Carlos, o avião, que partiu na sexta-feira, 24, da cidade de Alexandria, na Virgínia, apresentou falha técnica ainda em espaço aéreo americano, fazendo uma parada no estado da Louisiana, no sul do país. Depois, precisou pousar no Panamá e, por fim, em Manaus.


A MANCHETE USA pediu explicações às autoridades americanas mas ainda não recebeu resposta.


O carioca Marcos Vinicius Santiago de Oliveira, 38, confirmou as agressões contra outros deportados, contou a respeito da pane que teria ocorrido no avião e disse que os brasileiros foram forçados a ir ao banheiro de porta aberta.

Para Aeliton Cândido, 33, de Divinópolis (MG), “foi a pior coisa que já passei na minha vida. Medo de morrer".


Luiz Fernando Caetano Costa fez relato detalhado sobre o tratamento degradante dos americanos durante o voo: "Eu não fui agredido, mas os meninos foram. Eles estavam algemados, meteram o porrete neles sem dó. Desumano. Chutes, jogando os moleques no chão. Em um deles, um cara deu um mata-leão.” Luiz estava há 1,6 ano nos EUA.


Vários brasileiros mostraram as marcas da violência que sofreram dos agentes. Sinais de brutalidade com requintes de crueldade estavam nas feridas provocadas por pauladas.


"Alguns rapazes mais novos começaram a ver as crianças passando mal, eles estavam falando para tirar as crianças", afirmou Mario Henrique Andrade Mateus, 41, que diz ter ficado três meses detido na imigração americana.


"Após a chegada da Polícia Federal, depois de muita discussão, muita briga, eles não queriam deixar a gente descer. E quando aceitaram, eles queriam tirar as algemas para que a PF não visse que nós estávamos algemados em território brasileiro", acrescentou Mario Henrique.


Além dos maus-tratos relatados no voo, os brasileiros também revelaram o tratamento desumano nas prisões. "Até cachorro aqui no Brasil come melhor do que a gente comeu lá", disse Lucas Gabriel Maia. "Era pão, água e cereal." Outros migrantes também relataram que comiam hamburgueres no almoço e na janta.


A Embaixada dos EUA em Brasília não se manifestou formalmente e no sábado havia dito apenas que "os cidadãos brasileiros do voo de repatriação estão sob custódia das autoridades brasileiras" e que a representação diplomática estava em contato com as autoridades.


A violência cometida no voo chamou a atenção de autoridades internacionais. Citando o caso do Brasil, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, disse neste domingo, 26, que não permitirá que aviões militares dos EUA façam voos de deportação até o seu país. "Um migrante não é um criminoso e deve ser tratado com a dignidade que um ser humano merece", afirmou Petro em publicação no X.


"Não posso fazer com que migrantes fiquem em um país que não os quer; mas se esse país os devolve, deve ser com respeito, em aviões civis", afirmou. "A Colômbia exige respeito."


Brasileiros pediram socorro para funcionários do aeroporto que trabalhavam na pista
Autoridades brasileiras vão cobrar dos EUA explicações sobre violência (Foto: Reprodução TV)

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