Veterano condecorado dos EUA volta para Coréia do Sul após ordem de deportação
- Rádio Manchete USA
- 27 de jun.
- 3 min de leitura

WASHINGTON - Veterano do Exército dos Estados Unidos, Sae Joon Park tinha visto de residência permanente (green card) há quase 50 anos e chegou a ser condecorado com uma das maiores honrarias das Forças Armadas. Apesar disso, sua trajetória não foi suficiente para poupá-lo da caça aos imigrantes promovida pelo governo de Donald Trump.
Nesta semana, Park se "autodeportou" para a Coreia do Sul, de onde havia emigrado ainda criança, depois de ser tornar alvo da política repressiva do ICE. O motivo? Um histórico de dependência química fruto de um quadro de transtorno pós-traumático adquirido após o serviço militar.
"Não consigo acreditar que isso está acontecendo na América", disse Park à National Public Radio (NPR), pouco antes de partir do Havaí, na última segunda-feira. "Isso me destrói, [é] um país pelo qual eu lutei".
A sua história ilustra os impactos das políticas migratórias de Donald Trump sobre imigrantes que, como Park, conquistaram o tão sonhado green card, mas ainda são não estão totalmente seguros. O caso também expõe os obstáculos que veteranos estrangeiros enfrentam após se envolverem em problemas com a Justiça.
Park, hoje com 55 anos, foi trazido da Coreia do Sul aos sete anos e se alistou após o ensino médio. Serviu na invasão dos EUA ao Panamá, em 1989, durante a operação “Just Cause”, que derrubou o regime do general Manuel Noriega — acusado de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e extorsão.
Durante um tiroteio com tropas panamenhas, Park foi baleado nas costas. Ele então retornou aos EUA, recebeu a medalha Coração Púrpura, concedida a militares feridos em combate, foi dispensado com honra e iniciou sua recuperação física.
No entanto, segundo contou à NPR, o transtorno de estresse pós-traumático o levou ao vício em crack. Em 2009, foi preso em Nova York ao tentar comprar a droga. O veterano admitiu ter faltado a uma audiência judicial sobre o caso temendo ser reprovado no toxicológico – o que frustrou sua tentativa de se tornar cidadão americano, benefício disponível a veteranos estrangeiros que, como ele, serviram com honra.
A princípio, um juiz determinou sua deportação, mas ele pôde permanecer no país mediante apresentação anual ao ICE. Com isso, Park se estabeleceu no Havaí, onde criou seus dois filhos.
Em junho, segundo a NPR, o ICE o notificou de que ele seria detido e deportado, a menos que saísse voluntariamente do país. Ele optou por se despedir dos filhos, amigos e da mãe de 85 anos, com princípio de demência, e embarcou para a Coreia do Sul.
"Ela meio que nem sabe direito o que está acontecendo", contou Park no aeroporto de Honolulu, batizado em homenagem a um veterano japonês-americano da Segunda Guerra Mundial cujos parentes foram enviados a campos de concentração nos EUA.
O governo Trump sempre defendeu publicamente sua linha dura migratória. Na quarta-feira, a porta-voz do Departamento de Segurança Interna, Tricia McLaughlin, afirmou em nota que Park tem “condenações por posse, fabricação ou venda de arma perigosa, porte de arma de fogo carregada em local público, agressão e posse criminosa de substância controlada”.
A nota não detalha os crimes, mas afirma que sua ordem de deportação já julgada o privava de “base legal para permanecer nos EUA”. “Se você vier ao nosso país e quebrar nossas leis, nós vamos encontrá-lo, prendê-lo e deportá-lo”, disse McLaughlin. “Isso é uma promessa.”
Park declarou à KITV, emissora do Havaí, e à NPR sentir-se grato por ter servido nas Forças Armadas dos EUA e ter a oportunidade de sair voluntariamente. Mas classificou sua experiência com o ICE como “injusta”.
"Eu estava em estado de negação até o último minuto, mas a realidade está batendo muito forte. Eu realmente não consigo acreditar que isso está acontecendo", desabafou.
** Com Agências **

Comments