Promotores pedem sentença superior a 7 anos de prisão para George Santos
- Rádio Manchete USA
- 7 de abr.
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NOVA YORK - Promotores federais de Nova York pediram nesta sexta-feira, 4, uma sentença de prisão superior a sete anos para George Santos, o ex-congressista republicano cuja carreira desmoronou após a revelação de que grande parte de seu currículo era fruto de uma série de mentiras.
A promotoria defende a pena de 87 meses para Santos, a fim de refletir a “gravidade de seus crimes sem precedentes”.
A sentença de Santos, de 36 anos, marcada para o dia 25 de abril e, embora as diretrizes recomendam uma pena entre seis e sete anos de prisão, a decisão final cabe ao juiz responsável pelo caso.
Acusações
Em 2023, os promotores acusaram Santos de 23 crimes federais enquanto ele ainda era deputado federal por Nova York. Ele se declarou culpado em agosto do mesmo ano, após ser expulso da Câmara, de duas dessas acusações: fraude eletrônica e roubo de identidade qualificado. O republicano também admitiu uma série de outros crimes.
Na busca por riqueza e vitória eleitoral, segundo os promotores, Santos fabricou seu passado e participou de vários esquemas, incluindo a falsificação de valores arrecadados em sua campanha e o roubo de doações. “Ele mentiu para sua equipe de campanha, seus apoiadores, seu suposto empregador, colegas no Congresso e para o público americano”, escreveram os promotores.
“A conduta de Santos zombou do nosso sistema eleitoral”, acrescentaram.
Em um documento separado apresentado também na sexta-feira, os advogados de Santos pediram uma sentença de dois anos, o mínimo permitido para o crime de roubo de identidade qualificado,seguida de liberdade condicional. Segundo a defesa, Santos reconheceu a gravidade de seus crimes e concordou em pagar quase US$ 375 mil em restituição.
“A conduta dele, embora envolva desonestidade e abuso de confiança, decorreu em grande parte de um desespero equivocado relacionado à sua campanha política, e não de uma malícia inerente”, escreveram os advogados.
Eles alegaram ainda que o constrangimento público enfrentado por Santos e sua expulsão do Congresso tornavam improvável que ele cometesse crimes semelhantes no futuro.
Os promotores discordaram, escrevendo que uma sentença significativa era necessária para refletir a “amplitude, alcance e natureza predatória” dos crimes cometidos por Santos.
A insistência desafiadora do ex-congressista de que era vítima de uma “caça às bruxas” e sua recusa em renunciar mesmo após surgirem provas de sua culpa “só agravaram a situação” e enfraqueceram suas alegações posteriores de arrependimento, afirmaram os promotores.
Eles também citaram a participação de Santos no Cameo — uma plataforma de vídeos com celebridades —, sua colaboração em um documentário e a recente estreia de seu podcast “Pants on Fire With George Santos” como evidência de que ele tenta “transformar seus crimes em trampolim para fama e riqueza”.
Segundo os promotores, Santos mentiu sobre suas credenciais e histórico pessoal por anos, antes mesmo de se candidatar. Descrevendo-o como “um mentiroso patológico e fraudador”, argumentaram que ele provavelmente voltaria a cometer crimes semelhantes se não fosse preso por um longo período.
Um dos advogados de Santos, Joseph W. Murray, afirmou em comunicado que estava “muito decepcionado e, na verdade, envergonhado” com o pedido de sentença feito pelos promotores, classificando-o como “draconiano”.
“George aprendeu muito durante esse processo, aceitou a responsabilidade por suas ações e está comprometido em fazer o que é certo e seguir em frente de forma positiva — o que, ao que parece, incomoda o governo”, escreveu Murray, acrescentando que considera seu cliente um amigo pessoal e “um jovem de coração incrivelmente bom”.
Uma publicação feita no sábado pela conta do podcast de Santos na plataforma X afirmou que os promotores “usaram uma linguagem rebuscada para atacar” o ex-congressista.
“Resumindo: eu NÃO vou sucumbir às suas táticas destruidoras de alma — e isso os enfurece”, dizia a publicação.
Santos surgiu no cenário nacional em 2022, após sua eleição ao Congresso ter ajudado o Partido Republicano a conquistar a maioria na Câmara. Jovem, gay e filho de imigrantes brasileiros, Santos se apresentou como o novo rosto do Partido Republicano e um orgulhoso apoiador de Donald Trump.
Mas antes mesmo de tomar posse, o jornal The New York Times revelou que ele havia inventado grande parte de seu currículo. Outras reportagens do Times e de outros veículos revelaram uma série de mentiras absurdas sobre conexões pessoais com o Holocausto, os ataques de 11 de setembro e o massacre na boate Pulse em Orlando, além de fraudes financeiras e diversas violações de financiamento de campanha.
Santos foi expulso do Congresso no final de 2023, após um relatório do Comitê de Ética da Câmara apontar evidências de que ele havia violado a lei federal.
Quem é George Santos?
Filho de imigrantes brasileiros, George Santos, de 36 anos, se apresentou como a "nova cara do Partido Republicano" e construiu uma figura de candidato nas eleições legislativas de novembro de 2022, baseada em mentiras sobre sua educação, religião, experiência profissional, bens e salários. Ele chegou a falsificar sua história familiar, afirmando ser descendente de judeus sobreviventes do Holocausto que fugiram da barbárie nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
Uma investigação realizada pelo jornal The New York Times, quando ele já estava no Congresso dos EUA, revelou suas mentiras. Entre os crimes pelos quais Santos é acusado estão fraude eletrônica, lavagem de dinheiro, apropriação indevida de fundos públicos e mentir ao comitê eleitoral federal.
Segundo a promotoria, o ex-deputado enganou doadores de sua campanha ao transferir dinheiro para sua própria conta e usá-lo para pagar dívidas pessoais, comprar roupas de grife ou fazer pagamentos com os cartões de crédito de seus próprios apoiadores sem autorização. Ele também é acusado de receber benefícios de desemprego aos quais não tinha direito durante a pandemia de coronavírus, antes de sua eleição.
Em dezembro passado, a Câmara dos Representantes expulsou o republicano, tornando-o o sexto congressista a ser obrigado a abandonar seu cargo na história da instituição. Mais de dois terços de seus colegas votaram para expulsá-lo, incluindo mais de cem republcianos. A comissão de ética da Câmara o acusou de ter "desacreditado gravemente" o órgão legislativo.
Sua ex-tesoureira de campanha, Nancy Marks, se declarou culpada no ano passado por manipular os registros financeiros da campanha em coordenação com Santos, incluindo a declaração fraudulenta de um empréstimo fictício de 500 mil dólares (R$ 2,73 milhões, na cotação atual) que Santos afirmou ter feito à sua campanha. Ela pode ser sentenciada a três ou quatro anos de prisão.
O arrecadador de fundos de campanha de Santos, Sam Miele, também se declarou culpado de uma acusação de fraude eletrônica.
** Com NYT **
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