Brasileira de 19 anos diz que viveu "os dias mais difíceis" em prisão do ICE
- Rádio Manchete USA
- 26 de jun.
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Atualizado: 27 de jun.

SALT LAKE CITY - A brasileira Caroline Dias Gonçalves, de 19 anos, afirmou ter passado por dias muito difíceis ao se pronunciar pela primeira após permanecer mais de duas semanas presa sob custódia do ICE no Colorado.
"Os últimos 15 dias foram os mais difíceis da minha vida. Eu estava com medo e me sentia sozinha", desabafa por meio de uma nota pública divulgada pelo TheDream.US, organização sem fins lucrativos dedicada a oferecer bolsas de estudos para jovens imigrantes.
Em tempo: A brasileira é beneficiada por esse programa e estuda Enfermagem como bolsista na Universidade de Utah.
Caroline foi solta na sexta-feira, 20, mais de 36 horas após a Justiça americana decidir pela soltura, em audiência realizada na quarta-feira anterior. Ela pagou uma fiança de US$ 2.500 e está usando uma tornozeleira eletrônica.
A estudante de Enfermagem se queixou da qualidade da comida no presídio privado do ICE em Aurora. "Na detenção, nos davam comida encharcada – até o pão vinha molhado", descreve.
A jovem também relatou uma diferença de tratamento entre os imigrantes presos que falam inglês e aqueles que não dominam o idioma.
"No momento em que perceberam que eu falava inglês, notei uma mudança. De repente, fui tratada melhor do que outras pessoas que não falavam inglês", observa.
"Isso partiu meu coração. Porque ninguém merece ser tratado assim. Não em um país que chamo de lar desde os 7 anos de idade e que é tudo o que eu conheço."
A reportagem procurou o ICE para responder às críticas feitas por Caroline.
Por email, a secretária adjunta de Assuntos Públicos do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS, na sigla em inglês), Tricia McLaughlin, desqualificou as declarações da brasileira. O ICE é subordinado ao DHS.
"Qualquer alegação de que indivíduos são tratados de forma diferente pelas autoridades por causa do idioma que falam é categoricamente FALSA. Esse tipo de ataque tem como objetivo demonizar e vilanizar nossos corajosos agentes do ICE. Esse tipo de lixo resultou em um aumento de mais de 500% nos ataques contra agentes da lei", declara McLaughlin.
"Os fatos são: Caroline Dias Gonçalves, uma imigrante ilegal do Brasil, foi presa pelo ICE em 5 de junho de 2025. Seu visto expirou há mais de uma década. O presidente Trump e a secretária [Kristi] Noem [do DHS] estão comprometidos em restaurar a integridade do programa de vistos e garantir que ele não seja abusado como um passe-livre para estrangeiros permanecerem nos EUA."
A secretária adjunta disse ainda que o ICE é regularmente auditado e inspecionado por agências externas para garantir que todas as suas instalações estejam em conformidade com os padrões nacionais de detenção.
A reportagem encaminhou a resposta de McLaughlin ao advogado de Caroline, Jonathan M. Hyman, para comentário. "A linguagem usada pela secretária adjunta é puramente política e retórica vazia", rebate Hyman.
"Ninguém apoia agressões contra agentes da lei. Embora as alegações sobre o aumento desses ataques devam ser verificadas, encorajo a secretária adjunta e seu departamento a serem honestos e transparentes."
'Espero que mais ninguém tenha que passar pelo que passei'
Em sua nota pública, a brasileira agradeceu a seus amigos e familiares pela mobilização em favor de sua libertação. E disse desculpar o agente do ICE que a prendeu.
"Ele pediu desculpas e dizia que queria me soltar, mas que suas 'mãos estavam atadas'. Não havia nada que ele pudesse fazer, mesmo sabendo que aquilo era errado", conta Caroline.
"Quero que você saiba — eu te perdoo. Porque acredito que as pessoas podem fazer escolhas melhores quando têm essa opção."
Caroline também disse esperar que outros não passem pelo que ela passou.
"Espero que mais ninguém tenha que passar pelo que eu passei. Mas sei que, neste momento, mais de 1.300 pessoas ainda vivem o mesmo pesadelo naquela unidade de detenção em Aurora. Elas são como eu — incluindo outras pessoas que cresceram aqui, que amam este país e que querem apenas uma chance de pertencer", destaca a brasileira.
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"Imigrantes como eu — não estamos pedindo nada de especial. Apenas uma chance justa de ajustar nosso status [imigratório], de nos sentirmos seguros e de continuar construindo as vidas pelas quais tanto lutamos neste país que chamamos de lar."
A estudante vive nos Estados Unidos desde os 7 anos com a família. Eles entraram no país com visto de turista e ficaram além do prazo de permanência de seis meses. Há três anos, a família entrou com um pedido de asilo e ainda aguarda uma decisão — não estão claros os motivos alegados no requerimento.
** Com BBC **

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